Para aqueles que estão tristes
com o fim do quiz de fim de ano, aqui está uma pergunta para começar 2014: Se
você tivesse se unido a uma igreja que prega uma teologia da Tulip, isso
significa que: a) o pastor coloca flores no pão da ceia; b) o pastor crê que as
flores que surgem novamente toda primavera simbolizam a ressurreição; ou c) o
pastor é um calvinista?
Como um número cada vez maior de
cristãos sabe, a resposta é a letra “c”. O acrônimo [em inglês] resume as
chamadas doutrinas da graça de João Calvino, com sua ênfase na pecaminosidade e
na predestinação. O “T” significa a Total Depravação do homem. O “U” significa
a Eleição Incondicional, que quer dizer que Deus já decidiu quem será salvo,
independente de qualquer condição na própria pessoa, ou em qualquer coisa que
ela possa fazer para conquistar sua salvação.
O acrônimo não fica mais animador
depois.
O evangelicalismo está no meio de
um avivamento calvinista. Números cada vez maiores de pregadores e professores
ensinam as visões do reformador francês do século 16. Mark Driscoll, John Piper
e Tim Keller — pregadores de megaigrejas e importantes escritores evangélicos —
são todos calvinistas. A frequência em conferências e igrejas de influência
calvinista está em alta, especialmente entre os fiéis nas casas dos 20 e 30
anos de idade.
Na Southern Baptist Convention
(Convenção Batista do Sul), a maior denominação protestante dos Estados Unidos,
a ascensão do calvinismo provocou discórdia. Em 2012, uma pesquisa abrangendo
1.066 pastores batistas do sul conduzida pela LifeWay Research, um grupo sem
fins lucrativos associado à Southern Baptist Convention, 30% consideraram suas
igrejas calvinistas, enquanto que 60% estavam preocupados “com o impacto do
calvinismo”.
Calvinismo é uma orientação
teológica, não uma denominação ou organização. Os puritanos eram calvinistas.
Os presbiterianos são provenientes dos calvinistas escoceses. Muitos batistas
primitivos eram calvinistas. Mas no século 19 o protestantismo se moveu em
direção à crença não-calvinista de que os seres humanos devem consentir com sua
própria salvação — uma crença otimista e americana por excelência. Hoje, nos
Estados Unidos, uma grande denominação (a Presbyterian Church in America) é
assumidamente calvinista.
Mas mais ou menos nos últimos 30
anos, os calvinistas têm ganhado proeminência em outros ramos do protestantismo
e em igrejas que costumavam dar pouca importância à teologia. Em 1994, quando
Mark Dever foi entrevistado na Capitol Hill Baptist Church, uma igreja batista
do sul em Washington, o comitê de seleção nem mesmo teve que pergunta-lo a
respeito de sua teologia.
“Então eu disse: ‘Deixe-me pensar
no que vocês não gostariam em mim se soubessem’”, lembra Dever. E lhes contou
que ele era um calvinista. “E eu tive que explicar para eles o que isso
significava. Eu não queria que minha família se mudasse para cá e eu acabasse
perdendo o emprego”.
Dever, 53, disse que quando
assumiu em 1994, cerca de 130 membros frequentavam aos domingos, e a idade
média deles era entre os 70 anos. Hoje igreja recebe cerca de 1.000 fiéis, com
uma idade média entre os 30 anos. E embora Dever tenda a não mencionar Calvino
em seus sermões, seu educado público, muitos dos quais trabalham na política,
sabe e gosta do que está ouvindo.
“Penso que é perceptível em seu
ensino”, diz Sarah Rotman, 34, que trabalha para o World Bank. “O foco real é
na Escritura, e que todas as respostas que buscamos nesta vida podem ser encontradas
na palavra de Deus. Em muitas de suas pregações, ele realmente fala sobre nossa
pecaminosidade e nossa necessidade do Salvador”.
Tal foco na pecaminosidade difere
muito do evangelicalismo popular dos últimos anos. Ele corre na contramão dos
pregadores do “evangelho da prosperidade”, que insinuam que a fé pode tornar
uma pessoa rica. Ele não soa nada como as afirmações que apelam às emoções de
pregadores e escritores como Joel Osteen, que tratam a Bíblia como um livro de
autoajuda ou um guia para melhorar os negócios.
“O que você ouve em algumas
megaigrejas é: ‘Deus quer que você seja um bom pai, e aqui há sete formas em
que Deus pode lhe ajudar a ser um bom pai’”, diz Collin Hansen, autor de
“Young, Restless, Reformed: A Journalist’s Journey With the New Calvinists”
[“Jovens, Incansáveis, Reformados: A Jornada de um Jornalista com os Novos
Calvinistas”]. “Ou: ‘Deus quer que você tenha um bom casamento, então aqui
estão três maneiras de fazer isso’”. Em contraste, Hansen diz que aqueles que
frequentam igrejas calvinistas querem que o pregador “fale sobre Jesus”.
Alguns não-calvinistas dizem que
a ascensão do calvinismo foi alcançada, em parte, através de métodos
sorrateiros. Roger E. Olson, um professor da Baylor University e autor de
“Contra o Calvinismo” (Editora Reflexão), é o crítico mais franco do calvinismo.
“Uma das preocupações é que novos
formandos de certos seminários batistas tenham se infiltrado em igrejas que não
são calvinistas, e não contando às igrejas ou aos comitês de seleção, que não
são calvinistas”, diz o professor Olson. De acordo com o que ele ouviu, jovens
pregadores “esperam vários meses e depois começam encher a biblioteca da igreja
com livros” de calvinistas como John Piper e Mark Driscoll. Eles criam turmas
especiais com tópicos calvinistas, diz ele, e colocam na liderança da igreja
aqueles que são calvinistas como eles.
“Frequentemente a igreja acaba se
dividindo, com os não-calvinistas começando sua própria igreja”, diz o
professor Olson.
Em sua reunião anual em junho, a
Southern Baptist Convention recebeu um relatório de seu Comitê Consultivo de
Calvinismo, que abordou acusações tanto de preconceito anticalvinista dentro da
denominação quanto de má fé de calvinistas.
“Devemos esperar que todos os
candidatos para posições ministeriais na igreja local sejam completamente
sinceros dispostos quanto às questões da fé e da doutrina”, diz o relatório.
Embora muitos neocalvinistas
mantenham-se longe da política, eles geralmente tomam posições conservadoras
quanto às Escrituras e a questões sociais. Muitos não creem que as mulheres
devam ser pastoras ou presbíteras. Mas Serene Jones, presidente do Union
Theological Seminary, diz que a influência de Calvino não era limitada aos
conservadores.
Cristãos liberais, incluindo
alguns congregacionalistas e presbiterianos liberais, podem também assumir outros
aspectos dos ensinos de Calvino, diz a Dra. Jones. Ela mencionou a crença de
Calvino de que o “engajamento cívico é a principal forma de obediência a Deus”.
Ela adiciona que, diferentemente de muitos conservadores de hoje, “Calvino não
lia a Escritura literalmente”. Frequentemente Calvino “está citando-a
incorretamente, e ele inventa passagens da Escritura que não existem”.
Brad Vermurlen, um aluno bacharel
da Universidade Notre Dame escrevendo uma dissertação sobre os novos
calvinistas, diz que a ascensão do calvinismo foi real, mas que a comoção deve
diminuir.
“Dez anos atrás, todos falavam da
‘igreja emergente’”, diz Vermurlen. “E cinco anos atrás, as pessoas estavam
falando da ‘igreja missional’. E agora do ‘novo calvinismo’. Eu não quero dizer
que o novo calvinismo seja uma mania, mas me pergunto se é uma daquelas coisas
que os evangélicos americanos querem falar a respeito por cinco anos, e depois
continuar vivendo suas vidas e plantando suas igrejas. Ou é algo que veremos
daqui a 10 ou 20 anos?”
Por MARK OPPENHEIMER - 03.01.2014