Igrejas comprometidas com a
Teologia da Prosperidade podem ser consideradas cristãs? Aqueles que aderem ao
evangelho da prosperidade devem ser tratados como nossos irmãos em Cristo? Mas
e os pastores e líderes que enganam as pessoas com essa mensagem espúria? Como
devemos encará-los?
Essas perguntas têm perturbado
muitas pessoas há muito tempo. Acredito que também não eram poucos os que
buscavam respostas a essas questões ao participar da Consulta Teológica e
Pastoral “Um chamado à humildade, à integridade e à simplicidade”, nos dias 3 a
5 de abril na Estância Palavra da Vida, em Atibaia (SP). Essa Consulta,
promovida pela Aliança Cristã Evangélica Brasileira em parceria com o Movimento
de Lausanne, ocorreu mais de 20 anos depois que a Teologia da Prosperidade
começou a confrontar as igrejas evangélicas brasileiras.
O que motivou tamanho atraso na
realização de um encontro de alto nível sobre o assunto em nosso país? Creio
que foi em grande parte pela nossa dificuldade em administrar a tensão que
também esteve presente na Consulta. De um lado, há aqueles que preferem adotar
uma atitude conciliatória, tentando aproximação com os adeptos da Teologia da
Prosperidade, deixando-lhes abertas as portas para o caso de mudarem de
posição. Do outro lado, há os que se preocupam com a doutrina e prática
corretas e sentem necessidade de denunciar os abusos dos promotores da Teologia
da Prosperidade a fim de proteger cristãos e não-cristãos dessa heresia.
Joel Edwards, Diretor
Internacional do Micah Challenge (Desafio Miquéias), causou impacto ao comparar
os adeptos da Teologia da Prosperidade a um “adolescente desviado”, que tem
crises éticas e é caracterizado por atitudes egocêntricas. Lembrou que quando
os adolescentes cometem erros, em vez de expulsá-los de casa, os pais devem
conversar com eles e, ao fazê-lo, talvez percebam coisas que precisam aprender
deles.
Comparar os adeptos da Teologia
da Prosperidade a adolescentes implica conferir-lhes legitimidade, aceitando-os
como filhos ou irmãos, membros da nossa família. Talvez devamos, sim, ter
coração aberto para relevar alguns erros na doutrina e na prática, pois é
próprio dos adolescentes serem imaturos, irresponsáveis, fazer criancices e até
cometer pequenos delitos de vez em quando.
Devemos, porém, lembrar que a
realidade é muito mais complexa. Há os que se aproveitam da imaturidade dos
adolescentes e lhes passam drogas ou os conduzem à prostituição. E mesmo entre
os traficantes, há os pequenos vendedores, os chefes do “morro” e os donos do
tráfico, e não podemos tratar todos da mesma maneira.
Nos evangelhos, Jesus trata de
maneira diferenciada os diversos tipos de ouvintes. Em relação aos mestres da
lei e fariseus, não mediu palavras para denunciar os ensinos e malfeitos desses
líderes religiosos que não queriam entrar no Reino de Deus nem deixavam entrar
os que desejavam fazê-lo (Mateus 23). Já em relação às multidões, sempre
demonstrou compaixão e acolhimento, embora tomasse o devido cuidado para evitar
que sua fama se espalhasse e ele fosse encarado como um Messias que iria
satisfazer os interesses egoístas e utilitaristas dos judeus (Mateus 9.36;
Marcos 6.34; cf. Marcos 1.43-44; 5.43; 7.36; 8.26, 30; 9.9; João 6.15).
Seguindo o exemplo de Jesus,
nossa resposta à Teologia da Prosperidade deve fazer distinção clara entre a
“multidão” e os falsos mestres. Para os que estão premidos pelas necessidades
ou se encontram na infância teológica e se tornam presas fáceis do ensino da
prosperidade, precisamos apresentar a mensagem autêntica de Jesus, mas com
compaixão e paciência, lembrando que ele nos amou primeiro. Para os que
exploram dolosamente os incautos com o “outro evangelho” da prosperidade, em
especial aos donos das igrejas, a mesma severidade com que Jesus tratava os que
enredavam o povo com ensinos espúrios. E a todos, o evangelho integral do Reino
de Deus, com sua visão de riqueza e pobreza, prosperidade e simplicidade, poder
e serviço, glória e cruz.
Norio Yamakami é
pastor da Igreja Evangélica Holiness do Brasil.